Arte da capa americana. Fonte: Google |
Um
Tom Mais Escuro de Magia pertence à mente de V. E. Schwab,
a qual não é pioneira quando se trata de escrever sobre fantasia. Venceu
diversos prêmios em 2013 e 2014 com suas outras obras, além de ser muito
elogiada por autores best-sellers do New York Times. Sua mais nova aposta no
ramo da literatura fantástica veio para as terras brasileiras em meados de
2016, mais precisamente em agosto. Conquistou muitos fãs fora e dentro do
Brasil, não em uma escala Harry Potter, mas sim um espaço caloroso no
coração dos leitores, os quais se mostraram bastante satisfeitos. Em pequenas
pesquisas feitas por mim em alguns blogs de literatura, as críticas são, em sua
maioria, positivas. Gabriella, – maravilhosa! – a ponte que me ligou às 418
páginas desse livro, também não poupou elogios, além de tentar me deixar a par
desse universo da literatura mais mágica, o qual confesso não ter tanta
familiaridade.
O enredo já é audacioso
e intrigante logo de cara: imaginem vários universos paralelos. Em cada
universo desses, existe uma versão de Londres. Em Um Tom, a trama concentra-se em quatro: Londres Vermelha (a magia
aqui pulsa com alegria e controle), Londres Cinza (há pequeninos resquícios de
magia, mas o lugar, assim como o próprio nome, tornou-se fraco e sem vida. Na
minha opinião, a Londres Cinza representa a Londres que nós conhecemos inserida
naquela época), Londres Branca (a magia tomou posse de tudo e todos,
transformando o lugar, o deixando poderoso, mas temido e hostil) e Londres
Preta, a qual não existe mais. Em meio a tudo isso, deixando de lado alguns
detalhes para que sua leitura seja o mais surpreendente possível, temos Kell.
Kell não é simplesmente
um ser mágico comum. Ele é um Antari,
que em explicação básica é alguém com um controle de magia e equilíbrio muito
maior do que os outros, nascido com o propósito de “servir” ao rei e rainha de
sua Londres em algumas tarefas que somente ele consegue executar. A
personalidade deste vai sendo moldada de acordo com a narrativa, o que eu
gostei deveras. Por dedução, se Kell é alguém que se destaca dos demais,
poderíamos ter uma personalidade egocêntrica e muito chata aqui, o que é o
contrário. Suas motivações e anseios o fazem ser humilde e compassivo, e tudo
isso vai crescendo e transcendendo com o andamento das páginas.
A história começa a
tomar forma quando Kell faz algo que não devia, deixando todas as Londres em
grande perigo. Um artefato com magia negra e pulsante conseguiu viajar de um
universo para o outro, o que é praticamente fatal e proibido. A carreira solo
de herói do nosso Antari não é bem
sucedida graças a entrada de uma personagem. Ou melhor, a personagem: Delilah “Lila” Bard.
Minha queda por
personalidades femininas fortes pode ter ajudado altamente em meu julgamento da
obra, contudo, é impossível ignorar a existência e importância de Lila à trama.
Primeiramente, ela se encaixa – ao se encontrar com Kell – como protagonista também.
Segundo, em vez de ser poderosíssima e cheia de magia para esbanjar por ai, a
ladra “moleca” de rua não usufrui de nada disso, somente de sua astúcia,
ironia, inteligência e ótima habilidade com facas, pistolas e espadas. Em
terceiro ponto, não temos aqui a “princesinha em perigo” que sempre é salva
pelo herói, mas sim uma mulher de personalidade fortíssima com alto teor de
orgulho, o que às vezes a faz embarcar em perigo atrás de perigo. Sua aparência
nem um pouco atraente – magricela, cabelo curto estilo Chanel, roupas que
lembram trajes piratas – deixa ainda mais claro que V. E. Schwab não quer uma
donzela, ela quer uma Lila, a qual muitas vezes chega a ser confundida com um
homem por seus trejeitos.
Lila Bard por @victoriaying (minha arte favorita!) |
A química entre ambos
personagens é muito boa e divertida. Confesso que muitas vezes quis pular para
capítulos onde eu sabia que os dois estariam juntos. Deixando bem claro de
agora que não, não são um “casal” propriamente dito. São mais para algo, e o pronominal indefinito dá conta
do significado por si só. A amizade e a vontade de ajudar – tanto um ao outro
quanto também à própria pele – deixa a relação ainda mais deliciosa de ser
lida.
O enredo, o qual nos
traz altas viagens pelas Londres, além de muita ação e morte, coisa que eu não
esperava do livro, já que o mesmo possui características bem parecidas com a
dos YA’s. Definitivamente, não é toda criança de 13 anos que vai curtir a
leitura. A história aprofunda-se muito na questão da magia, da mesma pura e
vívida, como se a magia fosse várias raízes, e as consequências dela virassem
frutos, árvores, etc. Há um teor místico quase religioso em relação aos
poderes, a como os universos lidam com o poder que lhes fora atribuído. Gostei
bastante disso.
Também tive apreço pela
ambientação, a qual é totalmente ligada a épocas medievais, com reis, rainhas,
castelos e vilarejos, e da narrativa da autora. Como já se há uma experiência
no ramo, são raras as pontas soltas que Schwar deixa, apenas as necessárias
para um segundo livro, que já está por ai pelos Estados Unidos à fora, menos
aqui no Brasil L. Tem como título A Gathering of Shadows (na minha tradução de inglês básico ficou
“Um encontro de Sombras”). De acordo com algumas fontes, a previsão para a
chegada brasileira do livro está por entre meados de maio de 2017. Um terceiro livro também anda sendo muito comentado por ai, mas como ainda não li informações oficiais sobre o mesmo, deixarei para trazer essa notícia caso ela realmente seja confirmada. Por como o
primeiro livro acaba, a ansiedade de começar o segundo já está me deixando
louca desde já!
Somente alguns pontos
os quais se estudados, em minha opinião, não dão a Um Tom uma nota 10. Para mim, a história demorou demais para ser
iniciada de fato. Com certeza com um capítulo a menos, a mensagem conseguiria
ser passada e todos entenderiam o que a premissa, mesmo um pouco mais curta,
iria transmitir. Quando estamos no meio do livro, é notório que o mesmo já
ganha um ritmo mais acelerado, o que me fez querer que houvesse, pelo menos, 10
páginas a mais no fim. Achei a “batalha final” fácil demais de ser derrotada,
mediante à fama dos vilões (não os revelarei, não se preocupem) e eu também
esperava por melhores explicações para os acontecimentos que se sucederam e os
que ficaram para trás. Um personagem em particular, Holland, também um Antari, o qual é dono de um passado
peculiar e cheio de mistérios, foi-se construído
de maneira rasa, com motivos não tão convincentes e participação daquele tipo
“mais do mesmo”, e o seu desfecho.... Um legalzinho virado para baixo com
certeza.
Um
Tom Mais Escuro de Magia foge dos padrões YA’s da distopia
do mundo em que já estamos cansados de ver. Com muita profundidade e ação, foi
com certeza uma leitura de literatura fantástica que ficou gravada em meu
coração.
YA é uma sigla bastante usada no meio literário. É a abreviação de Young Adults, que nada mais seria a classificação infanto-juvenil aqui no Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário